Nesta quarta-feira, 24, a abertura da II Conferência Estadual da Mulher Advogada, promovida pela Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe, celebrou vivências de luta e conclamou à batalha permanente em prol da efetivação de direitos da advocacia e da população femininas.
“A efetiva participação feminina deve ser vista como verdadeiro movimento transformador da OAB e da sociedade”, aclamou o presidente da entidade, Inácio Krauss. “A Ordem tem papel relevante nesta luta pela efetivação dos direitos fundamentais e do respeito à diversidade”.
Em seu discurso, Inácio ponderou que a pandemia afetou todas as categorias profissionais e todos gêneros, mas, infelizmente, devido à cultura patriarcal, a sobrecarga recai mais fortemente sob as mulheres, das quais são exigidas duplas jornadas: familiares e profissionais.
“Inegavelmente vivemos em uma sociedade arcaica, que de forma machista impõe condições desiguais à mulher em todos os setores, especialmente no mercado de trabalho, e a Ordem tem papel relevante na luta contra qualquer discriminação que impeça a equidade de gênero”.
Ele relembrou o caráter vanguardista da entidade sergipana ao instituir os primeiros Conselhos Seccional e Federal paritários. “Orgulha-nos que, em 90 anos, tivemos a primeira bancada paritária de toda a OAB. A advocacia com paridade e igualdade de gênero é advocacia forte”.
Na ocasião, a iniciativa foi enaltecida também pelo secretário-geral do Conselho Federal da OAB, José Alberto Simonetti. “É necessário o registro do vanguardismo da Seccional, que já traz na atual gestão a composição paritária, medida só recentemente aprovada pelo CFOAB”.
“A paridade de gênero não constitui em uma luta da mulher advogada somente. Sabemos que o fortalecimento e o respeito à mulher advogada constituem em instrumento de valorização da própria advocacia, pois as mulheres dignificam e enriquecem a profissão”, afirmou.
“As advogadas têm demandas que não podem ser negligenciadas. Elas exercem papel vital na desconstrução de uma cultura opressora que pesa sob todas as mulheres e são defensoras de direitos individuais e coletivos. Não há democracia sem que a elas a liberdade seja concedida”.
O momento foi marcado pelos discursos eloquentes em defesa da concretização da equidade de gênero e pelo enaltecimento de mulheres que são protagonistas da história sergipana e brasileira através de vivências que buscam e buscaram efetivar a igualdade entre os gêneros.
Por meio de medalha, foram homenageadas pela Seccional Adélia Moreira Pessoa, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da OAB/SE, e, em memória, Juçara Fernandes Leal de Mello, advogada e primeira mulher a lecionar em Faculdade de Direito de Sergipe.
A medalha, aprovada pelo Conselho Seccional da OAB/SE em fevereiro deste ano, leva o nome de Juçara Leal e pretende homenagear mulheres que se destacaram em suas atividades e profissões ou àquelas que prestaram relevantes serviços ao Estado de Sergipe.
No evento, o ex-presidente da OAB Nacional e OAB/SE, Cezar Britto, teceu palavras afetuosas sobre Juçara e discursou em reconhecimento às lutas do passado. “Medalhas não são espaços físicos para vaidade. Elas têm o papel de mostrar o passado e mostrar as pessoas que nos ensinaram e permitiram que as gerações atuais pudessem fazer as mudanças necessárias”.
“As pessoas homenageadas aqui hoje foram muito bem escolhidas. Juçara desafiou seu tempo ao ser a mulher a lecionar Direito. Sempre foi leal ao saber e ao ensino da pessoa humana. Assim como Adélia Pessoa. É alguém que nos ensina a importância da pessoa humana”, disse.
Olívia Leal, filha de Juçara, demonstrou gratidão pela homenagem da Seccional concebida à mãe. “Sempre me surpreendo com o carinho que ela recebeu. Seja nos tempos de glória, lúcida e ativa, ou no longo período em que perdeu as faculdades mentais”, contou.
“Até mesmo depois que ela passou para o outro plano, seus alunos chegavam a mim para narrar o episódio em que ela tocou a vida deles de alguma forma. De fato, ela fazia isso. Para mim, essa comenda representa que a morte é uma ilusão quando a memória ainda está viva”.
Adélia Pessoa também agradeceu a honraria. “Não há vocábulos que expressem a gratidão por essa medalha, pois com Juçara muito aprendi e isso me serviu de estímulo para agir com outras pessoas que contribuem para a efetivação de direitos, sobretudo dos vulnerabilizados”.
A presidente da Comissão proferiu ainda um discurso sobre os desafios atuais, abalizando que “a sociedade vive permeada por retórica banal que cria armadilhas para dissimular, definindo barbárie, provocando medo e, na truculência, adota a domesticação das divergências”.
“As mesmas mãos que se juntam para condenar a violência são aquelas que sob as vestes de sedutora oratória associam a vocação da fé ao controle do corpo feminino, ao desrespeito às diversidades e a agressão a direitos fundamentais de mulheres. São tempos sombrios”, disse.
“Cumpre-nos a missão de mudar a realidade da advocacia feminina, reconhecendo a existência ainda de preconceitos e discriminação. Cumpre-nos reconhecer as necessidades essenciais da mulher advogada. Muito foi conquistado, mas ainda há muito a percorrer”, afirmou Adélia.
Também proferiram discursos na abertura da Conferência a presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de Sergipe, Hermosa França, e o diretor-geral da Escola Superior de Advocacia de Sergipe, Kleidson Nascimento. O evento está sendo prestigiado por diretores, conselheiros e membros de comissões da OAB/SE, além de integrantes de outras Seccionais.
Sobre a Conferência
A II Conferência Estadual da Mulher Advogada – Mulheres Advogadas: Superando Desafios acontece até esta sexta-feira, 25. Realizada pela OAB/SE, por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher (CDDM), em parceria com a Caixa de Assistência dos Advogados de Sergipe (CAASE) e com a Escola Superior de Advocacia (ESA), o evento acontece de forma virtual, com transmissão ao vivo através do canal da OAB no YouTube (www.youtube.com/oabse).