Uma mesa redonda formada por especialistas de diversas áreas encerrou, na tarde desta sexta-feira, 28, as atividades da Campanha “Coração Azul” em Sergipe. Iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) em combate ao tráfico de pessoas, a ação foi promovida no Estado pela ONG Ágatha e contou com o apoio da Ordem dos Advogados, por meio da Comissão de Direitos Humanos.
Colocando em debate as práticas e as políticas públicas voltadas para o enfrentamento do tráfico humano, a mesa redonda foi mediada pela vice-presidente da Comissão da Infância, Adolescência e Juventude da OAB/SE, Acácia Lelis. “O tráfico humano é um problema que passa despercebido pela população, mas que atinge várias áreas da sociedade, podendo ocorrer com qualquer pessoa, principalmente em comunidades carentes. A participação da Ordem, enquanto defensora dos direitos sociais, é fundamental nesse trabalho de conscientização e combate a esse crime. Tomar conhecimento é o primeiro passo que a sociedade pode dar para enfrentar essa realidade e garantir que menos pessoas passam por isso”, disse Acácia Lelis.
O presidente em exercício da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SE, Robson Barros, ressaltou inicialmente o apoio da CDH ao evento. Relatou que o trabalho de coleta de dados feito na capital durante a campanha, apontam a existencia de possiveis casos em nosso Estado. A nível mundial as “Dados apontam que o tráfico de pessoas assumiu a segunda colocação no ranking de crimes mais rentáveis, perdendo apenas para o tráfico de armas”. Por se tratar de um crime que não possui dados oficiais em Sergipe, ele acaba sendo visto pela sociedade como inexistente. Debater esse tema e apresentar os dados preliminares coletados, demonstram fortes indícios da existência de tráfico humano no Estado, abre os olhos da comunidade para esse tema. Esse é um crime que ocorre às escondidas, por isso, a participação popular é importante nessa luta e nosso objetivo é passar todas as informações possíveis sobre o assunto”, assegurou Robson Barros.
O promotor do Ministério Público do Trabalho em Sergipe, Ricardo Carneiro, também compôs a mesa, apresentando a ótica do órgão em relação ao tráfico de seres humanos. “Pensar o tráfico de pessoas na seara trabalhista, é pensar em redução a condição análoga de escravo, precarização das relações de trabalho e jornada exaustiva, entre outros quadros que caracterizam o que um trabalhador traficado pode sofrer. O tráfico de pessoas, por mais desumano que seja, é uma atividade bastante lucrativa para quem explora. Enquanto Ministério Público do Trabalho, nossa perspectiva é percorrer esse circuito do lucro e cobrar daquele que aufere o lucro, a partir dessa atividade absolutamente inominável”, explicou o promotor.
Para Lídia Anjos, diretora de Direitos Humanos da Secretaria de Assistência Social e Cidadania de Aracaju, apesar de ser um tema doloroso e difícil de lidar, é preciso debater o tráfico de pessoas. “Essa é uma pauta desconhecida, mas gera bastante sofrimento aos traficados e suas famílias. Infelizmente a sociedade, por falta de conhecimento sobre o assunto, acaba neutralizando situações. Discutir o tráfico humano é munir a população de ferramentas para atuar nessa prevenção, informando como acontece o crime e de que forma é manifestada a ação suspeita. Ao falar sobre o problema, capacitamos a sociedade, possibilitando que as pessoas reconheçam casos suspeitos e denunciem”, frisou.
A psicóloga Gerciane Barbosa trouxe a visão clínica sobre o tráfico de seres humanos. “A psicologia trabalha em dois importantes eixos: na prevenção e na assistência integral a vítima de tráfico. Discutir essa problemática sob o ponto de vista psicológico é garantir um tratamento humanitário à causa, atuando, através das políticas públicas, para minimizar os reflexos gerados por esse crime”.