Em enfrentamento ao racismo, à intolerância e à violência contra a identidade da mulher negra, a Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe, participou nesta sexta-feira, 21, de uma audiência pública sobre o caso da estudante de jornalismo, Thamires Menezes, vítima de preconceito à raça, à etnia e às características físicas na Universidade Tiradentes, em Aracaju.
Segundo Thamires, durante a apresentação de um texto na bancada da aula de “Comunicação e expressão oral – Técnicas de dicção”, o professor afirmou que o cabelo estilo black power e descolorido da estudante chamaria mais atenção que a notícia, e, por isso, ela não poderia ser âncora de telejornal. O caso foi relatado pela aluna na mídia sergipana e na imprensa nacional.
De acordo com ela, a Universidade tenta atenuar o caso. “Esse é um fato recorrente. A diferença é que outros alunos não tiveram a coragem que eu tive de denunciar. Após a minha denúncia, várias pessoas me procuraram para dizer que passaram por situações de racismo ou homofobia. Eu espero que a Unit se posicione e resolva esse problema”, afirma Thamires.
Para a universitária, a audiência pública foi de extrema importância. “Eu perdi duas matérias porque não tive condições de fazer as provas. Todos os alunos estavam contra mim e eu não tinha psicológico para ir à universidade. Eu só ficava em casa chorando e ficava com medo de sair. Agora, me sinto mais confiante para voltar às aulas. Eu estava com medo de conviver com os alunos e estudar com o mesmo professor de novo”.
Realizada pelo Ministério Público Estadual de Sergipe, a audiência contou com a participação de membros da sociedade e representantes da Unit, do Ministério da Educação, da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SE, da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da OAB/SE e da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra em Sergipe da Ordem.
Na ocasião, além de defender a necessidade de rigor nas punições, a vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, Valdilene Martins, sugeriu a criação e implantação de um Fórum Permanente de Debates na Unit. De acordo com Valdilene, é imprescindível a discussão sobre assuntos como o racismo, a LGBTfobia, o machismo e a intolerância religiosa.
“Nenhuma aluna e nenhum aluno deve se calar por sofrer preconceito. É inadmissível que isso aconteça. Esses casos precisam ser punidos com rigor pelas instituições”, afirma Valdilene.
Presente ao debate, o presidente da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra em Sergipe da OAB, Kleber Renisson Nascimento, considerou a discussão inovadora. Segundo ele, a Unit garantiu que apoiará a aluna e criará políticas de discussão para a discriminação social.
“A OAB participará efetivamente de todos os debates para a construção de uma luta que aplaque na sociedade o mal que é a discriminação e as intolerâncias. Hoje, todos nós saímos com o propósito de construir um conjunto de ações para discutir de forma ampla e irrestrita a matéria e as soluções para o futuro”, considerou Kleber.